sábado, 20 de outubro de 2007

Chapada IV – pessoas especiais que se juntaram ao nosso grupo

Nosso grupo de trekking éramos a Paulinha e eu. A agência de São Paulo já havia nos informado que poderíamos ter outras companhias durante os dias que seguiram. No segundo dia, conhecemos a Cécile, uma francesa de 28 anos que estava trabalhando no Brasil e o Jonas, um senhor de 65 anos, de Fortaleza, que parecia (e às vezes falava!) com estrangeiro.

Cécile é uma pessoa muito sensível e altruísta. Quando ela percebeu que eu tinha medo de atravessar os riachos a nado para chegar às cachoeiras, ela se ofereceu para nadar ao meu lado. Ela ia um pouco na frente e, de vez em quando, olhava para mim com um olhar tão parceiro, como se dissesse “não tenha medo, estou te acompanhando”. E foi assim em todas as vezes em que entramos nos riachos, até o final. Cécile muitas vezes ficou para trás acompanhando o Jonas. Em uma das trilhas, mesmo com o joelho doendo, ela se ofereceu para levar o tripé da câmara do Jonas. E, na volta da Cachoeira do Buracão, com uma chuva fina e um pouco frio, paramos em uma pequena padaria no distrito de Ibicoara. Cécile estava na porta da padaria observando os arredores, passou uma moça com o guarda-chuva voando e ela se prontificou a ajudar.

Cécile está retornando para a França. Quando nos encontramos em São Paulo para ela me devolver umas roupas que eu emprestara, ela confessou, com os olhos brilhando, que foi uma pena conhecer a gente agora no final. Fiquei tocada com a sensibilidade dela. O abraço forte que trocamos mostrou nossa emoção de ter compartilhado momentos e lugares incrivelmente lindos desta viagem fantástica.

O Jonas me mostrou o lado humano da superação. Um senhor com muito vigor que ainda continuou por lá quando Paulinha e eu, já exaustas, voltamos para São Paulo. Eles continuariam o trekking com outro grupo. Jonas também estava sempre de bom humor, às vezes cantarolava imitando um trombone e sempre tirava fotos de nós três em momentos distraídos. Jonas fez questão de vir nos ver na manhã em que partimos, achei muito cavalheiro da parte dele vir se despedir. Nos dias que se seguiram, nos falamos por celular e ele já manifestava a saudade das caminhadas. Eu também confessei que já sentia saudades das trilhas e do privilégio de ter conhecido pessoas tão especiais!

Os ingleses Greg e Steve foram uma comédia à parte. Eles vieram da Inglaterra em três semanas de férias no Brasil. Passaram pelo Rio de Janeiro, Salvador e suas praias do litoral norte e, depois da Chapada, iriam para Morro de São Paulo. Greg era mais extrovertido, conversava mais, contava histórias e dava muita risada. Steve já era mais contido, um típico jovem inglês sarcástico. Eles estavam acompanhados da Thaís, uma jovem tradutora. Durante as travessias no jipe, Greg e Steve ouviam Ipod. Eles cantavam e fingiam que tocavam os instrumentos da música que ouviam, guitarra, saxofone, violino, era muito engraçado, eles não estavam nem aí. Ao sair de Andaraí, onde passamos para tomar sorvete e fomos ver diamantes num ourives, já estava escurecendo e começamos a compartilhar as canções da infância. Nós cantávamos em Português e eles, cantavam as versões em inglês. Vimos que temos muitas canções em comum. Foi um retorno muito divertido, todos se entregaram ao momento!

A Thaís morava e trabalhava em uma pousada em Lençóis. Ela foi passar o Carnaval/2007 na Chapada, se encantou pelo lugar e, com o apoio da família, decidiu ficar. Ela mora com os pais e dois irmãos em Brasília/DF. Além de ser uma moça linda e nova, já tem uma experiência de vida muito rica. Fiquei tocada em vários momentos em que ela nos contou sua vida, sobretudo quando ela nos contou sobre a forma como os pais transmitiram o valor de se conquistar as coisas na vida, do dinheiro aos sonhos. Embora ela tivesse condições boas de vida, ela contou que desde adolescente fazia trabalhos de recepção em festas e usava o dinheiro para comprar os sapatos, bolsas e outras coisas que desejava. Desta forma, desde cedo, ela aprendeu o valor das coisas e o sabor da conquista e isso, dentre outros exemplos de uma vida digna que os pais passaram, formou o seu caráter e de seus irmãos. Ela teve a oportunidade de trabalhar alguns meses nos Estados Unidos e isso deu a chance de viajar mais e conhecer pessoas e culturas diferentes.

Ouvir as histórias da Thaís é ouvir exemplos belíssimos de pais que educaram os filhos para a vida, para respeitar o próximo, para valorizar o dinheiro que ganham e buscar realizar os sonhos pelos próprios esforços e não por meio dos pais. Ela é uma jovem diferenciada, madura para sua idade e diferente de muitos jovens que encontramos hoje, produto de uns pais que dão tudo o que os filhos pedem, sem ensinar o valor das coisas, desmesuradamente. Ela contou que a decisão de ir morar em Lençóis foi abençoada pelos pais. O que conhecemos dos pais brasileiros é uma vida de proteção, muitos pais não aprovariam a decisão que a Thaís tomou. Mas os pais dela apoiaram e, não só ela, como toda a família se engrandeceu com a experiência.

Cada pessoa que conheci nesta viagem me faz lembrar histórias de intensidade. Cada um me marcou de uma forma muito, muito especial.

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